Embargo Comercial a Cuba: Resultado da votação da Assembleia Geral da ONU

Durante o encontro da Assembleia Geral das Nações Unidas ocorrido no dia 29 de outubro de 2025, por decisão majoritária a instituição de maior representatividade de governança mundial solicitou novamente o fim aos embargos econômicos e comerciais impostos a Cuba. Uma decisão que reforça o posicionamento da Assembleia Geral sobre a falta de embasamento legal, político e diplomático para a continuidade da política hostil formulada e exercida pelos Estados Unidos. 

Entretanto, para compreender a dinâmica política deste embargo, e a recente solicitação pelo seu encerramento, é necessário inicialmente resgatar as raízes históricas da relação entre os Estados Unidos e o país caribenho que culminaram neste cenário de embargos e contestação.  

Histórico e fatores motivadores do bloqueio:

O contexto da Guerra Fria e o conflito ideológico entre o governo estadunidense e o soviético, tornou a ilha de Cuba uma região politicamente sensível para os Estados Unidos devido à influência e ao alinhamento político junto à antiga União Soviética. Nesse contexto histórico, ambos os países buscavam fortalecer laços diplomáticos e expandir a sua influência no campo político — disputa entre o eixo capitalista e socialista — tornando o Sistema Internacional bipolar e conflituoso. 

Cuba, nessa conjuntura, passou a se aproximar da influência soviética devido ao compartilhamento das perspectivas de política econômica a serem implementadas no país. Dessa forma, por meio da participação de Fidel Castro  — líder da revolução cubana e um dos principais alvos das operações de política externa estadunidense nesse período — a revolução cubana foi instaurada no país em 1959. A revolução ocorreu dentro de um contexto no qual o país se encontrava fortemente vulnerável e dependente dos Estados Unidos, se apresentando como uma grande zona de influência estadunidense que não fomentava desenvolvimento autônomo e melhoria na qualidade de vida da população. 

Assim sendo, com base nas perspectivas socialistas a revolução cubana foi instaurada, posicionando o país ainda mais próximo da zona de influência soviética. Durante este processo, ocorreu a nacionalização de empresas, propriedades e bens localizados dentro do território cubano como parte da política socialista. Nesse processo, os bens de capital e produção de antigas empresas estadunidenses que faziam parte da economia cubana passaram a ser nacionalizadas e compor a carteira de empresas estatais de Cuba. Haja vista que os investimentos de capital produtivo estadunidenses em Cuba eram significativos — grande presença de capital produtivo no país mas sem retenção dos ganhos econômicos para a região — a reação dos Estados Unidos sobre a nacionalização de seus bens representou o principal ponto de partida para a promulgação dos embargos econômicos à ilha. 

Ademais, somado também ao posterior contexto da crise dos mísseis — a instalação de mísseis soviéticos no território cubano como estratégia militar e geopolítica da Guerra Fria — e continuidade do sistema socialista no país mesmo após a queda da União Soviética, a política do bloqueio econômico e comercial ao país se fortaleceu. 

Portanto, o atual cenário da continuidade do embargo à ilha se perpetua com base nestas raízes históricas que remontam o contexto da Guerra Fria e que ainda respalda a política externa estadunidense em relação à Cuba. Entretanto, apesar deste embasamento histórico, a decisão da Assembleia Geral sobre a necessidade de pôr fim a esta política se fundamenta na prerrogativa de que não há justificativas políticas atuais para a continuidade do bloqueio. Assim sendo, perante a decisão majoritária da instituição o cenário da economia política internacional não está mais associado ao antigo contexto histórico da Guerra Fria, e atualmente o país não apresenta alegações firmes que sustentem o apoio da comunidade internacional.

Resultado e análise da votação:

De forma periódica as Nações Unidos promovem uma votação interna sobre o fim ao bloqueio comercial imposto a Cuba, e em todas estas sessões de forma expressiva a comunidade internacional dos países membros da instituição votaram a favor do encerramento desta política hostil imposta pelos Estados Unidos. E paralelamente de forma também recorrente, os Estados Unidos ignoram a decisão da Assembleia Geral e persistem na política do bloqueio comercial, apesar da falta de apoio diplomático e justificativas que validem a sua política. 

Na última votação realizada no ano de 2025 houveram 165 votos a favor do fim ao bloqueio, 12 abstenções e somente 7 votos contra. Entre os países que votaram na permanência da política imposta à ilha é possível destacar o próprio Estados Unidos, Israel, Argentina, Hungria, Macedônia, Paraguai e Ucrânia. Devido ao contexto geopolítico de guerra na Ucrânia e em Israel, o apoio dos Estados Unidos aos respectivos países corroborou com a sua votação na Assembleia Geral para a continuidade desta política. Entretanto, nas últimas votações os únicos votos que legitimavam a continuidade do bloqueio eram apenas dos Estados Unidos e de Israel, representando uma mudança na dinâmica dos resultados no ano de 2025. 

Dessa forma, considera-se que o desprezo dos Estados Unidos em relação a votação e ao pedido da Assembleia Geral para pôr fim a política do bloqueio representa a continuidade do poder imperialista do país. O interesse em punir os Estados que não se alinhem com a perspectiva e política externa estadunidense, mesmo em um cenário de não bipolaridade no Sistema Internacional, se apresenta como o principal elemento de sustentação da necessidade do país em manter esta política sem apoio da comunidade internacional. 

Diante deste cenário, o governo cubano anualmente apresenta uma resolução às Nações Unidos pedindo o encerramento do bloqueio devido às perdas econômicas que o país enfrenta a partir do isolamento comercial outorgado à ilha. Somente durante o período entre março de 2024 até o mês de fevereiro de 2025 o país pôde contabilizar uma perda de U$7.5 bilhões de dólares para a economia cubana, uma vez que o bloqueio proporciona um isolamento econômico geral. Durante as últimas resoluções apresentadas por Cuba na Assembleia Geral, o país confirma que o prejuízo perdido teria a capacidade de estimular o desenvolvimento econômico e social cubano dos próximos 5 anos caso houvesse o fim desta política.  

Ademais, as resoluções periódicas de Cuba apontam diretamente a continuidade do bloqueio como uma tentativa clara de desestabilizar — por meio de crises econômicas internas e pressões externas — o sistema de governo socialista no país, haja vista que desde o contexto da Guerra Fria persiste em ser um ponto de inflexão da política externa estadunidense na região. Nessa conjuntura, Cuba classifica o bloqueio como uma política genocida perante o Direito Internacional pois priva o país e a sua população do acesso a alimentos, produtos e demais relações comerciais, além de prejudicar diretamente setores básicos do país como saúde e educação. 

O principal elemento de sustentação da decisão da Assembleia Geral é a garantia do princípio basilar da instituição, a soberania dos Estados membros. Assim sendo, consideram que a continuidade do bloqueio comercial ao país é um elemento que ameaça a soberania nacional de Cuba e suas instituições. Ademais, enfatizam também a denúncia contra a extraterritorialidade desta política que pune empresas e demais representações que rompam com o bloqueio imposto unilateralmente pelo país. 

Dessa forma, é importante pensar e questionar a legitimidade e a perpetuação do bloqueio, uma vez que ameaça a soberania nacional cubana — sistema de organização socialista do país iniciado a partir da revolução cubana — e impede o pleno desenvolvimento autônomo do país. 

Referências:

BUGIATO, Caio. A teoria do imperialismo de Leo Panitch. estudos sobre marxismo, dependência e sistemas-mundo, 2021.

CAPITAL, Carta. Os 7 países que votaram a favor do embargo contra Cuba e os 12 que se abstiveram. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/os-7-paises-que-votaram-a-favor-do-embargo-contra-cuba-e-os-12-que-se-abstiveram/. Acesso em: 18 nov. 2025.

Cuba. Cuba VS Bloqueo: informe de cuba sobre la resolución 73/8 de la asamblea general de las naciones unidas. Cuba, 2019.

Cuba. Informe de Cuba. Cuba, 2025.

KARAM, Isabel Allende. Una mirada sobre la política exterior de la Revolución Cubana y las dimensiones de su universalidad. Cuba en revolución, 2019.

ONU. Assembleia Geral pede fim do embargo a Cuba pela trigésima terceira vez. 2025. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2025/10/1851385. Acesso em: 19 nov. 2025.