Barreiras de gênero impostas às mulheres na caminhada ao topo do poder político
O que é necessário para uma mulher chegar em uma posição de poder na política? Pode-se pensar em fatores materiais, como ter uma filiação a um partido, ter financiamento para campanha, ter boas propostas… De forma simplória, é preciso ser eleita para certo cargo. Mas o caminho não é simples, existem barreiras que comumente não são levadas em consideração quando pensamos o que é preciso para uma mulher chegar ao poder.
É importante ser “bem vista”, o que é algo bem difícil. Como líder, ela não pode aparentar ser muito suave, passiva ou doce, características comumente associadas a feminilidade, mas que não passam a confiança de que é uma líder que vai conseguir conduzir o país. Como você vê a ex-candidata à presidência Marina Silva?
Ainda, como líder política, a mulher deve ser assertiva, firme e até direta, características que são bem vistas em líderes homens, entretanto, geram uma leitura negativa para uma mulher, que passa a ser considerada como grossa, agressiva, o que não é bem visto. Ter boa aparência é essencial para pessoas que ocupam altos cargos, mas o que geralmente não é fator de crítica aos homens, às mulheres torna-se evidência da sua falta de capacidade de liderança. “Se não consegue cuidar da própria aparência, como vai cuidar do país?” Consegue lembrar do que falaram sobre a aparência da ex-presidenta Dilma Rousseff?
O âmbito doméstico de suas vidas pessoais também se torna um fator para críticas, seja com um julgamento sobre sua atuação como mães, ou pela escolha de não possuir filhos. Já ouviu falar sobre Julia Gillard? Ela foi Primeira Ministra da Austrália de 2010 a 2013, e de acordo com o jornal Sydney Morning Heral, ela não se encaixava na expectativa de alguns leitores, por ser uma mulher solteira, sem filhos ou filhas, que dedicava sua vida à sua carreira. Enquanto atuava na chefia de governo do país, foi chamada de “comunista, ateia e sem filhos” por um rival do próprio partido, e de “deliberadamente estéril” por um senador de um partido rival. A resposta da ex-Primeira Ministra ao rival, em discurso que o acusa de sexismo e misoginia, foi eleito um dos momentos mais memoráveis da televisão australiana pelo The Guardian.
Além de tais críticas, quando são fortes concorrentes à altos cargos do poder político, seus opositores utilizam meios contra sua segurança para tirá-las do jogo político, como foi o caso das três mulheres que faziam oposição a Alexander Lukashenko nas eleições para presidência em Belarus, nesse ano: Svetlana Tikhanovskaya, considerada principal rival de Lukashenko, Veronika Tsepkalo e Maria Kolesnikova, aliadas de Svetlana. Após o resultado controverso das votações darem a vitória a Alexander, Svetlana foi forçada a sair do país, se exilando na Lituânia. Ela afirmou que saiu para proteger os filhos, porém apoiadores relatam que ela foi forçada a falar isso.
Já Veronika Tsepkalo afirmou à BBC que, durante o período de campanha eleitoral, autoridades do governo tentaram colocar suas crianças em um orfanato. A aliada de Tikhanovskaya viajou para a Polônia com sua família por segurança. Maria Kolesnikova, última a ficar em Belarus, foi sequestrada em 7 de setembro por desconhecidos encapuzados e, após passar um dia desaparecida, foi presa na fronteira com a Ucrânia após se recusar a deixar o país. Em comunicado apresentado por seu advogado, Kolesnikova afirma ter sido ameaçada, pois caso não deixasse a República de Belarus voluntariamente, seria retirada de qualquer maneira, viva ou em pedaços, e que ainda poderia ser presa por até 25 anos.
O fato é que as primeiras barreiras para que elas cheguem ao poder giram em torno das expectativas sobre suas performances como mulheres, em contrapontos sobre feminilidade e masculinidade, que resultam no questionamento sobre sua capacidade de governar e sua legitimidade. Entretanto, os obstáculos não se limitam a tais aspectos. Classe, raça, etnia, identidade de gênero e orientação sexual complexificam ainda mais o caminho para que as diversas mulheres se façam presentes na política, nacional e internacional, pois sofrem com a violência estrutural, institucional e burocrática. Quem mandou matar Marielle Franco?
Ao pensarmos sobre elas no poder, é importante refletir sobre a quantidade e qualidade da sua presença, averiguando que políticas são feitas ou quais são propositalmente não feitas. Além disso, é necessário saber enxergar os fatores imateriais que são necessários para que as mulheres cheguem ao poder, e questionarmos tanto aos políticos quanto à sociedade que práticas contribuem para que elas não sejam vistas como agentes fundamentais para as dinâmicas políticas.