2023: um ano determinante para os BRICS

Em 30 de novembro de 2001, o economista britânico Jim O’Neill escreveu um artigo discutindo o contexto da economia mundial, com ênfase na relação entre o G7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido) e algumas das maiores economias de mercados emergentes.

            Ao relatar a perspectiva de crescimento acelerado de países como Brasil, Rússia, Índia e China, o economista usou pela primeira vez a sigla BRIC, a qual faz referência às iniciais dos países emergentes citados anteriormente. Mais tarde, em 2010, a África do Sul juntar-se-ia ao grupo de países, de modo a formar a sigla BRICS.

            Nos anos iniciais do século XXI, houve grande discussão a respeito do crescimento das principais economias emergentes do mundo e sobre quais seriam os impactos desse crescimento na economia e política global.

            Tais discussões, impulsionadas também pela gradual aproximação entre as economias emergentes, começou a tomar dimensões mais práticas a partir de 2006, quando Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC) se engajaram em reuniões de maneira informal. Em 2009, o grupo adotou um aspecto mais estruturado em suas discussões e criou a Cúpula dos BRICs, que desde então ocorre anualmente.

            Já em seu primeiro ano (2009), a Cúpula dos BRICs expôs à comunidade internacional a sua convicção de que uma estrutura econômica e financeira reformada deve se basear em (i) tomadas de decisão e implementação democráticas e transparentes; (ii) base jurídica sólida; (iii) compatibilidade entre as instituições reguladoras nacionais e dos organismos internacionais que definem as normas; e (iv) reforço das práticas de gestão de riscos e supervisão.

            Parte dos esforços realizados pelos BRICS a partir de 2009 foi feito na esteira da crise financeira de 2008, a qual trouxe questionamentos diversos sobre a hierarquia dos países nas instituições responsáveis pela governança econômica global. Desse modo, houve a abertura de um espaço de questionamento que posicionou o BRICS como um dos pontos focais nas discussões sobre a reforma do sistema econômico e financeiro global.

            Passados 15 anos desde a sistematização formal das discussões no âmbito do BRICS, o ano de 2023 tem sido analisado como bastante determinante para a história do bloco, especialmente por três motivos.

            Em primeiro lugar, em 24 de agosto de 2023, o grupo anunciou o seu processo de expansão, no qual Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia foram convidados a entrar no grupo como membros plenos a partir de 1º de janeiro de 2024.

Embora muito tenha sido discutido sobre as pressões realizadas por China, com apoio da Rússia, para expandir o grupo, tornando-o mais político e como reação aos abalos recentes nas relações da China e Rússia com EUA e União Europeia, o fato é que a expansão do grupo sinaliza o interesse de outros países emergentes nas propostas de reforma da estrutura econômica e financeira global postas pelos BRICS.

Em segundo lugar, o ano de 2023 marcou um avanço notável nas discussões e na defesa pela criação de uma “moeda dos BRICS” capaz de se colocar como alternativa ao dólar. Tal discussão decorre da crescente necessidade de alguns países emergentes em terem maior independência do sistema financeiro encabeçado pelos EUA.

Entre os defensores mais notáveis da “moeda dos BRICS” está o presidente Lula, o qual já questionou, em diversas ocasiões, o uso do dólar para transações comerciais que não envolvem os EUA, chegando a afirmar que a criação de uma moeda para transações comerciais e investimentos entre os membros do BRICS aumentaria “as nossas opções de pagamento” e reduziria “as nossas vulnerabilidades”.

Por fim, o terceiro motivo pelo qual o ano de 2023 é marcante para a história dos BRICS é o próprio retorno do interesse do governo brasileiro em participar ativamente das discussões do bloco. Nesse âmbito, o BRICS tem sido visto, desde o retorno de Lula à presidência do Brasil, como mais um espaço internacional no qual o país pode se projetar internacionalmente e avançar na busca por interesses nacionais.

Dessa forma, o ano de 2023 tem sido fundamental para determinar quais os rumos que o bloco pretende tomar nos próximos anos e quais são as suas reais capacidades de promover mudanças substanciais na estrutura econômica e financeira global.

Fontes consultadas:

BRICS: como Lula tenta ampliar influência do Brasil no mundo https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw9gjy219p2o

BRICS expansion is win for China, with Brazil getting little in return https://brazilian.report/power/2023/08/24/brics-expansion-china-brazil/

BRICS: sources of information https://guides.loc.gov/brics#:~:text=%22BRICS%22%20is%20the%20acronym%20denoting,Economics%20Paper%20No%3A%2066).

Building better global economic BRICS (Jim O’Neil) https://www.almendron.com/tribuna/wp-content/uploads/2013/04/build-better-brics.pdf

Como Brasil se equilibra ante pressão chinesa no BRICS https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gw3eeqyg1o

De-dollarisation: shifting power between the US and BRICS https://www.lowyinstitute.org/the-interpreter/de-dollarisation-shifting-power-between-us-brics

Expansão do BRICS: bloco anuncia 6 novos membros https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gz5nzlny5o

Hierarquia dos Estados no regime econômico-financeiro: os BRICS e a governança econômica global https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7390/1/TdM_v3_n1_Hierarquia.pdf

Joint Statement of the BRIC countries’ Leaders (2009) http://en.kremlin.ru/supplement/209

Lula volta a falar em alternativas ao dólar, agora com moedas do BRICS https://veja.abril.com.br/economia/lula-volta-a-falar-em-alternativas-ao-dolar-agora-com-moeda-dos-brics

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