Novas tensões entre Israel e Palestina acrescentam mais um capítulo ao longo conflito
As últimas ondas de conflito que ocorreram em Jerusalém e ganharam visibilidade nas principais mídias de informação nos relembra que o complexo conflito entre Israel e Palestina não acabou. O que muitas vezes fica adormecido nos noticiários ocidentais é o cotidiano de milhares de pessoas, que vivem uma verdadeira situação de apartheid, marcada pelo muro que divide a Cisjordânia e Israel, além das áreas palestinas de Gaza e Cisjordânia, territorialmente desconectadas.
Os tumultos iniciais se desenrolaram a partir dos despejos de famílias palestinas para entregarem suas casas a colonos judeus no bairro Sheikh Jarrah, na parte Oriental de Jerusalém. Tal decisão gerou revolta tanto pela divisão que a cidade possui – em uma área Oriental controlada por árabes, e uma Ocidental, sob controle de Israel -, quanto pela assimetria de garantias jurídicas que abarcam os dois povos. A lei Israelense agrava a discórdia por dar propriedade de territórios em Jerusalém aos judeus pela comprovação de posse anterior a guerra de 1948, lei que não se aplica a palestinos que perderam suas casas no conflito.
O plano de fundo para a ebulição das tensões também envolveu os encontros violentos entre palestinos e a polícia durante o Ramadã, período sagrado para os muçulmanos. Estes protestavam contra o controle excessivo de suas reuniões em Jerusalém, afirmando que muitas vezes foram impedidos de se encontrarem na cidade durante a noite, após a prática do ritual de jejum do mês sagrado.
Em 10 de maio a escalada de violência atingiu um ponto crítico: o dia aglutinou tanto o final do Ramadã quanto o dia de Jerusalém, comemoração da tomada de Jerusalém Oriental pelos israelenses. Na mesquita de al-Aqsa, o confronto entre palestinos e policiais israelenses causou mais de 300 feridos palestinos e mais de 20 policiais feridos. O Hamas reagiu à repressão policial, disparando mísseis a partir da Faixa de Gaza em direção a Israel, que respondeu com ataques aéreos.
O mais recente bombardeio de Israel a Faixa de Gaza resultou na morte de 10 pessoas de uma mesma família, incluindo oito crianças, e no desabamento de um prédio que abrigava os escritórios da emissora Al Jazeera e Associeted Press. O proprietário do prédio foi informado do ataque por militares israelenses, que estabeleceram o prazo de uma hora para evacuação completa do edifício, que se tornou alvo pela declaração feita pelo Exército israelense de que equipamentos militares do Hamas estavam na torre, e que os escritórios de veículos de comunicação civis serviam de escudo humano para o Hamas se esconder.
O que se percebe como resultado dos confrontos que ocorreram ao longo das décadas entre israelenses e palestinos é a assimetria de poder entre os dois grupos. Em estatísticas documentadas pelas Nações Unidas, a progressão do número de mortos e feridos dos embates de 2008 a 2020 infelizmente ilustra tal desbalanceamento de poder, com um grande contingente de vítimas e pessoas feridas da população palestina por respostas desproporcionais efetuadas por Israel.

Fonte: Nações Unidas/ Statista.
Com isso, o genocídio étnico que vem ocorrendo a anos faz parte da realidade de vários palestinos, indo além dos bombardeios brevemente relatados. A desapropriação ilegal de famílias palestinas da Cisjordânia para a criação de assentamentos de colonos judeus, a segregação social – e até judicial – feita entre os dois povos pelas autoridades Israelenses e a luta de civis e policiais israelenses, na qual estes usam pedras e aqueles, bombas de gás lacrimogêneo e armas com balas de borracha, deixam uma enorme cicatriz no povo palestino.
Assim como os curdos, que almejam a criação do Curdistão, palestinos também vislumbram a concretização do seu Estado próprio, mas infelizmente o horizonte da constituição do Estado da Palestina ainda não é visível sem envolver a continuação de graves episódios de violência, que tornam ainda mais complexo o contexto entre judeus israelenses e os árabes da Cisjordânia e Gaza.
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