O atual panorama ambiental brasileiro
O título da coluna de hoje deve causar estranheza, isso caso você não tenha sido acometido pelo fenômeno do duplipensamento à brasileira. Explico: Na obra “1984” de George Orwell, que trata sobre uma distopia na qual um projeto totalitário de poder usa dos mais diversos mecanismos para sua própria sobrevivência, há dentre eles, o duplipensar. Isto é, a capacidade de acreditar em duas coisas completamente opostas, sem questioná-las.
Logo, a estrutura governamental daquele Estado reflete esse mecanismo. O Ministério da Verdade trata de falsear a história, o Ministério da Paz é responsável pela Guerra, e assim por diante. Neste sentido, reza o lema do Partido: “Guerra é Paz”; “Liberdade é escravidão” e “Ignorância é força”. Soa familiar?
O Ministério do Meio Ambiente com Ricardo Salles como titular da pasta, traduz bem o fenômeno do duplipensar, tanto que poderiam assumir o lema de uma vez: “Destruir é Preservar”. As atitudes e escolhas políticas deste governo não se tratam apenas de negar a questão ambiental, como mormente se interpreta. Vão além, buscam normalizar e facilitar a devastação. O Ministério do Meio Ambiente, através de sua liderança política, trabalha contra a preservação ambiental. Digno das páginas de Orwell em 1984.
Em levantamento organizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) há demonstração que, desde 2019, ao menos 124 medidas foram editadas por Ricardo Salles que podem gerar algum tipo de risco ambiental no Brasil. Nitidamente, Salles encontra respaldo no presidente para agir desta maneira, basta lembrarmos das palavras que são atribuídas ao ex-presidente da República Velha, Rodrigues Alves: “O ministro faz tudo o que quer, menos o que o presidente não quer”.
Aliás, a cada ano na gestão Salles é possível lembrar de algum escândalo de dimensões ambientais, quando sua ação ou omissão se fizeram presentes. Façamos esse exercício: derramamento de óleo no litoral do Nordeste & queimadas da Amazônia em 2019; queimadas que destruíram um terço do Pantanal e “Passar a Boiada” sob a legislação ambiental enquanto as atenções estivessem voltadas para a Pandemia em 2020; e o mais recente, o possível favorecimento ao contrabando de madeira ilegal. Por óbvio, situações como as das queimadas não são particularidades deste governo, mas chama atenção o desmonte da fiscalização, a inércia no combate dessas e os níveis de destruição que foram atingidos.
Porém, não só no Ministério se faz política ambiental. E até 2020, independentemente das críticas que possam ser feitas ao ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, este desmonte não encontrava respaldo no Congresso. Os tempos mudaram, o sucessor de Maia perdeu a eleição, assumindo Arthur Lira com os compromissos de colocar em pauta flexibilizações e promover o enfraquecimento da legislação ambiental.
Enquanto o debate internacional acontece em razão da promoção e discussão em torno do desenvolvimento sustentável, da energia limpa, economia verde, turismo ambiental, dentre outros tópicos. O Brasil outrora exemplo no quesito, se torna pária ao aliar-se a visão do atraso.
O ideário que deve ser alçado no Brasil é como superarmos o nosso subdesenvolvimento e a equalização do estresse ambiental que isso pode causar. Diferentemente do que promove o governo, passa longe de termos que assumir o duplipensar “Destruir é Preservar” como norteador de nossa política ambiental.
Fontes:
https://congressoemfoco.uol.com.br/meio-ambiente/salles-boiada-levantamento-inesc/
https://exame.com/blog/joel-pinheiro-da-fonseca/ricardo-salles-o-ministro-da-destruicao-ambiental/